julho 25, 2007

Lábia Infalível

Era apenas uma menininha, sem ambições maiores, do tipo meiga e doce, amiga de todos. Seu sorriso suavizava qualquer indício de mau-humor e sua inocência encantava a todos que a rodeavam, embora ela se mostrasse geniosa e impaciente várias vezes. Apaixonada pela vida, ela achou uma armadilha e tropeçou. Levantou novamente sorrindo com uma expressão do tipo "não foi nada" e continuou seu caminho. Ignorada por muitos, admirada por poucos, olhada por todos. Novamente havia um buraco em seu caminho, e ela caiu. Esfolou um pouco o joelho, mas mesmo assim, ergueu-se e com um sorriso tímido continuou a andar pela estrada. Se sentia anormalmente feliz, anormalmente poderosa, como se nada fosse capaz de detê-la na busca pelos seus desejos. Estava tão confiante de si, sorria sem motivo, tinha vontade de rir e erguer os braços girando o corpo no meio da rua. Um carro passou por um triz dela, que estava distraída. Ela apenas riu e atravessou. Louca? Sim, os observadores continuavam a julgar-lhe insana, sem princípios, displicente. E ela estava aí pra isso? Apenas sorriu ironicamente e virou as costas. Parecia desfilar no meio do deserto. Seus momentos de querer se refugiar na escuridão pareciam nunca mais querer voltar. Estava tão orgulhosa de si mesma... Que não olhou para baixo e caiu, um tombo feio em mais um buraco. Desta vez demorou-se um pouco a levantar, sua feição já não mostrava alegria, estava meio imparcial. Tirou a poeira da blusa e seguiu em frente, erguendo a cabeça com um longo suspiro. Aí ela percebeu que mudara... Mudara tanto... Mas finalmente ela chegou. A casa não condizia com a situação exterior. Como uma coisa tão limpa, tão bonita, parecia tão bem cuidada, poderia continuar assim no meio daquele deserto? Ela não entendeu direito, mas entrou... Lá haviam várias pessoas e pelo barulho pareciam estar em festa. Não demorou muito até ela se enturmar. Conheceu amigos pra vida inteira, colegas momentâneos e rapazes desejáveis. Beijou um deles... Usou de sua conversa cheia de artimanhas e sedução, como uma sereia que canta para levar os marinheiros ao mar... Foram até o jardim... As mãos de ambos divertiam-se passeando, os lábios tocavam-se de forma voluptuosa... Quando o clima realmente começou a esquentar ela parou, com um selinho estalado. Ele a olhou ofegando um pouco, mas com uma expressão de súplica:

-Hum, hum mocinho, paramos por aqui... -anunciou ela em leve tom de censura, mas ainda com aquele sorriso cativante.

-Mas por que? Estava tão bom! -retrucou ele em tom choroso, roçando os lábios no pescoço dela. As mãos continuavam em sua cintura. Ela afastou-se sorrindo. -Ah qual é! -reclamou ele -E aquela história de curtir a vida? -arrematou desafiando-a. Ela continuou sorrindo daquele jeito irresistível.

-Estou a cumprindo... Mas pra essas coisas eu ainda sou meio... Conservadora... -concluiu com um dedo nos lábios, a uma distância considerável dele. -Ainda acredito naquela história da primeira vez perfeita, entende? Eu espero que o sortudo saiba aproveitar essa chance...

Ele ficou sem ação observando os gestos dela. De fato, não era mais uma... Era UMA, era única... E ele parecia saber que jamais encontraria outra garota assim. -Se o sortudo não souber aproveitar eu mesmo me encarregarei de matá-lo! -gritou e em resposta ela sorriu suavemente. Observou-a distanciar-se e voltar para a estrada acenando para ele, até virar totalmente e seguir seu caminho. Deu um longo suspiro e entrou na casa.

Aquele buraco pareceu sugá-la. Então ela sumiu nas sombras e nunca mais foi vista. Perguntado às pessoas o que tinham a dizer sobre ela, as respostas eram aterrorizantes e praticamente idênticas.

"Incrível é o que ela era... Nunca mais soube..." -disse o primeiro de maneira breve.

"Aquela garota era única... Talvez por isso fosse tão perfeita." -comentou o segundo logo depois.

"Era a junção perfeita da malícia e da inocência... Tinha um rosto de anjo e um sorriso tentador, maroto... Sem falhas, cheia de detalhes, bela e inesquecível." -declarou o terceiro ao sair atrás dos outros dois.

"Devia era ser uma deusa... Ou um demônio..." -entoou misteriosamente a última testemunha.

E ao fim cada um seguiu seu caminho, rumando de volta para sua vida monótona, com a constante e inesquecível lembrança da tal moça, que perturbara tantos sonhos.



Song: Lips of an angel - Hinder (perfect *___*)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito Lolita isso x)
;*****

Fernando Pessoa

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."