maio 14, 2008

Saudade, indiferença, desapego.

O que eu realmente sinto? Não sei dizer. Pensar, pensar e pensar. E tentar chegar a uma conclusão inútil, mas cômoda.

Passando pelo mesmo lugar de outrora. Uma certa estranheza tomou conta de mim, nada daquela saudade imensa que se apoderava dos meus pensamentos, mas um desespero contido. Eu precisava sair daquele lugar e me livrar de qualquer lembrança.

E parando novamente pra pensar eu descobri que não pertenço mais àquele mundo. E nem quero pertencer. Quero seguir em frente, não regressar. Quero que meu sonho torne-se real. Quero ser caloura ano que vem.

Às vezes me sinto tão suja. Falar "eu amo você" tem se tornado tão fácil e tão superficial. Diz-se quando se tem vontade, não porque realmente sente. E eu não sei o que eu sinto. Não sei.

***




Rachel estava finalmente ali, na beira do abismo. Estava escuro, uma noite gelada, um vento cortante. Ela se lembrou de como sua mãe adorava referir-se à ela como uma aberração. Menina exageradamente magra, olhos azuis, transparentes como água, pele alva, maquiagem pesada, cabelos negros extremamente lisos que desciam até a cintura. As lágrimas passeavam pelo seu rosto, sem emoção. Nenhuma expectativa, nenhum objetivo. A queda parecia tão convidativa. As ondas do mar quebravam ameaçadora e suavemente. Relâmpagos eram visíveis no céu negro, anunciando forte tempestade. Rachel sentou-se ali, abraçou as pernas pensativa. Não pretendia sair tão cedo. Seu rosto manchado refletia o estado de sua alma, distorcidos em desespero absoluto. Abrupto som de respiração ofegante fez-lhe tomar novamente os sentidos.

-Rachel?

A menina loira aproximou-se. Era quase tão magra e pálida quanto Rachel. Mostrou-se preocupada. Então abaixou-se, sentando ao lado da amiga.

-O que pensa que está fazendo?

-Não sei. Mas não quero voltar pra lá tão cedo.

-Vou ficar aqui contigo.

Rachel sorriu curtamente, e se aproximou mais da amiga. As imponentes asas negras então, fecharam-se quase em união e ambas permaneceram abraçadas esperando o sopro da morte ou uma nova chance de viver.

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Fernando Pessoa

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."