maio 07, 2009

Vingança

Não foi nada nobre de sua parte, porém sentia. Porém, queria, desejava, tinha a necessidade de fazê-lo. E sua chance veio. Sem maiores desvios, ela cumpriu o que planejava e acalmou seu coração. Acalmou? Quem sabe se não lhe colocou mais angústia no peito? Pois a necessidade de tê-lo perto, esta não cessara. Quando fechou os olhos, na madrugada mal dormida, estava confiante que não haveria de querer mais nada. Mas quis, como se sua vontade fosse insaciável. Contava involuntariamente as horas, minutos, segundos, e a maldita angústia continuava a apertar fortemente o peito.

Olhava em seus olhos. Ambos parados, frente a frente, fitando-se sem interrupções. Como se estivessem a brincar de jogo antigo, onde perderia quem risse ou pestanejasse. Jogadores ávidos pela vitória. Sentiu a coragem invadir-lhe a alma.

-Tenho permissão para vingar-me de mecê? -disse a mulher, o olhar faiscante, como em brasa, em ódio que queimava-lhe por dentro, tornando suas feições tão sombrias quanto seu coração negro, falecido.
-Qual! - o corajoso homem não hesitara sequer um segundo. Respondeu de imediato à pergunta feita sem nenhum arrependimento. -Siga em frente.

E vingou-se. Mas no fundo transformara-se em vazio, em escuridão. Corrompeu-se, pecou. Acordou pela manhã percebendo o sabor da vitória. E do pecado. Parecia-lhe tão absoluta a certeza de que precisava daquilo, e esta certeza virou castigo, atingiu em cheio seu coração fraco de dores. Em vez de curar-se, buscava adoentar-se ainda mais. Movimento involuntário e talvez incorrigível do qual jamais se esqueceria.

2 comentários:

Hud disse...

Ana... Que show =)! Você formulou esse texto? Ficou bem... expressivo... =o! Eu pude me ver dentro da situação e assistir a cena... ;P! Muito bom mesmo ;D

Anônimo disse...

Nossa, como eu adoro seus textos. São tão poéticos. Quem dera se soubesse escrever assim, se bem que nunca tentei. O meu estilo é mais, sei lá, jornalístico???!!! o.O
Adorei como falou desse lance da vingança, em que achamos que o sentimento será de alívio, vitória, "cura"..., mas que acaba tendo um resultado totalmente contrário, e indesejado. É aquele lance de "O feitiço vira contra o feiticeiro". Ao tentarmos nos vingar, acabamos virando a pessoa que nos fez mal, nos igualando a ela, sendo como ela... Por isso acredito que "A vingança não leva a nada". É clichê, mas é verdade!
Bjuxx*

Fernando Pessoa

"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."